O maracatu é um cortejo real de tradição afro-brasileira, que desfila, especialmente, pelas ruas do Recife por ocasião do carnaval. Conhecido também pelo nome de nação, ele se origina das antigas festas de coroação de reis negros, eleitos e nomeados de reis do Congo, a partir dos fins do século XVII. A mais velha notícia que possuímos do folguedo é a do padre Lino do Monte Carmelo Luna, de 1867.
Os mais antigos grupos são os Maracatus Elefante, Leão Coroado, Porto Rico e Estrela Brilhante.
Segundo as últimas pesquisas de Guerra Peixe, destacam-se entre os seus personagens: o rei e a rainha ou apenas um deles; o escravo, que sustenta o pálio ou guarda-sol; a dama-de-passo, a carregar a calunga, boneca de madeira negra; as baianas, com o traje típico das mulheres homônimas; os caboclos, a representarem os índios; os batuqueiros com os seus instrumentos musicais. As calungas, também chamadas bonecas, representam os ancestrais masculinos ou femininos do grupo.
Os outros personagens são: damas-de-honra, príncipe, princesa, condessa, vassalo, embaixador, porta-estandarte, o encarregado do megafone ou porta-voz, pessoas que conduzem lanternas e outros objetos. O Maracatu Elefante apresentava, em 1952 no cortejo as figuras do tigre e do elefante, este funcionando como o totem do agrupamento.
Como um cortejo em desfile, o maracatu, no seu todo, não possui dança própria. Apenas as baianas nos seus ordenados trejeitos e balanceios, evocam as danças dos xangôs, cerimônias religiosas afro-brasileiras do Nordeste. E os caboclos, com arcos e flechas, machados e lanças, ora de cócoras, pulando, apontando as armas, recordam os passos dos caboclinhos, folguedo popular de caracterização indígena.
Entre os momentos de maior significação do maracatu, deve-se mencionar o da dança da calunga, em que esta, entregue pela dama-de-paço à rainha, passa depois para as mãos das baianas, devendo cada uma dançar um pouco com ela. Esta dança é assim observada, quando o grupo sai ou retorna à sede. Mas com outro figurado é realizada a porta da igreja de Nossa Senhora do Rosário e à frente dos terreiros de xangôs, visitados pelo cortejo. Todas as vezes que desfilam pelas ruas de Recife, os maracatus tradicionais, não deixam de passar e cantar diante da igreja de Nossa Senhora do Rosário, no bairro de Santo Antônio.
A música vocal do maracatu chama-se toada e possui versos relacionados à procedência africana, instituição do rei do Congo e coisas do grupo. É cantada em dialogo pela rainha e baianas ou apenas por estas. Seu início e final são determinados, ao som de um apito.
O instrumental cuja execução se denomina toque, é constituído pelo gonguê, tarol, caixas-de-guerra e zabumbas. O gonguê é um grande agogô, com uma única campânula, percutido com uma vareta de madeira. O tarol é o pequeno tambor chato, em geral industrializado, com bordões de violão. As caixas-de-guerra são um pouco mais altas que o tarol, e também apresentam bordões e possuem origem industrial. Os zabumbas são os grandes tambores de fabricação popular, com som mais intenso que o do bombo de banda de música. Para a execução destes usam-se a maçaneta, composta de cabo e bilro, extremidade ovóide, e a resposta, que é uma vareta roliça. Ele se dividem em marcante, zabumba mestre; meião, o que transmite o comando rítmico aos seguintes; repiques, grupo que obedece às indicações do anterior.
Em 1952, o Maracatu Elefante apresentou-se com um gonguê, um tarol, quatro caixas-de-guerra, e nove zabumbas.
Inspirado nos maracatus de Recife surgiu em Fortaleza, no Ceará, o Maracatu Ás de Ouro, estudado por Luís Heitor, em 1943. Seus personagens são: boneca preta (calunga); porta-estandarte, carregando o símbolo do Ás de Ouro; dois meninos vestidos de índios e chamados maracatus; cambinda velha ou chefe da macumba, diretor musical e coreográfico do conjunto; rainha, antecedida por dois portadores de luminárias, dois com ventarolas, e seguida ritualmente pelo que traz uma sombrinha aberta; seguem-se os outros figurantes e os personagens femininos são homens vestidos de mulher. O acompanhamento instrumental é feito por um tambor surdo, uma caixa clara, uma cuíca, dois ganzás e um gonguê. Como os de Recife, o grupo desfila por ocasião do carnaval.
Maracatus-de-orquestra ou de trombone
Além do maracatu tradicional hoje estão surgindo em Recife, outros cortejos, denominados maracatus-de-orquestra ou de trombone.
Segundo Guerra Peixe, pertence a esse novo tipo o Maracatu Cambinda Estrela, o qual não apresenta nem rei nem rainha. São seus personagens o porta-bandeira (baliza), dama-de-paço, porta-buquê (mulheres carregando flores), baianas, caboclos, caboclos de lança (usam chapéu em forma de funil), boneca Aurora. O acompanhamento musical é realizado pelo gonguê, ganzá, tarol, cuíca, surdo, zabumba, saxofone, corneta e trombone. O gonguê possui duas campânulas. Na coreografia fundem-se figurados do samba e da marcha. A música vocal e instrumental chama-se toada e tanto pode ser um canto de grupo tradicional como também frevo, samba, choro, baião etc. Ela é realizada pelo coro feminino.
Maracatu Cambinda Nova, de Caruaru
Quanto à coreografia, este se aproxima do pastoril, com algum figurado do coro, e inclusive imitações de bailados de revistas musicais de filmes. Possui os seguintes personagens: rei, rainha, calunga, porta-estandarte, balizas, baianas, batuqueiros ou baqueiros e encarregado do megafone ou porta-voz. A música vocal apresenta grande influência do coco e é tirada através do megafone e respondida por homens e mulheres, exceção feita aos instrumentistas. Esta compreende jornadas como no pastoril.
Bibilografia:
Guerra Peixe, César. Maracatus do Recife. São Paulo, Ricordi
Heitor Luís. Música negra do Nordeste.
Relação dos discos gravados no estado do Ceará.
Publicações do Centro de Pesquisas Folclóricas da Escola Nacional de Música. Rio de Janeiro, 1953.